O PT e o fracasso nas eleições

O PT e o fracasso nas eleições

“Que porcaria de líder é esse?”

Era o exótico Silas Malafaia falando de seu líder, o ex-presidente Bolsonaro, na sequência das eleições no primeiro turno no último domingo. A queixa de Malafaia não me interessa, mas sua frase sim. Especialmente se vier no plural: “que porcaria de líderes são esses” talvez seja a frase mais exemplar do que aconteceu nas eleições para prefeitos e vereadores do último dia 6.

Nossa grande mídia nunca aprende e repete seus diagnósticos generalizantes sobre estes e aqueles efeitos das eleições. A verdade, entretanto, é fragmentária, aliás como tudo está ficando neste tempo esquisito em que estamos no Brasil, especialmente. Nas grandes cidades –  e somente nelas – há uma pista, não necessariamente determinante, de uma tendência para as eleições nacionais. No momento em que escrevo é indisfarçável que Lula e o PT foram os grandes derrotados nestas eleições. Não é verdade que Bolsonaro tenha sido o grande vitorioso como o reducionismo oportunista de lado a lado tenta confinar o País.

Animal político em tempo integral, Lula (que porcaria de líder é esse?) saiu por aí terceirizando sua provável derrota. Em São Paulo foi de Identitarismo vesgo, uma vez que com sua turma de PT e Tattos sequer podia aparecer. É coisa de cadeia mesmo. No Rio de Janeiro teve que engolir Eduardo Paes que, sabendo do desastre, sequer a vice aceitou entregar ao PT de QuaQuá e cia. Coisa de cadeia também.

Em Belo Horizonte não deu para terceirizar porque ninguém quis aliança com seu PT, embora ali nem seja assunto de cadeia. Em Salvador, Lula terceirizou para o MDB e tomou uma sova grande; Em Recife terceirizou para o PSB, que também não aceitou o PT na vice. Enfim, em Fortaleza o PT, liderando o maior esquema de corrupção da história do Ceará, chave de cadeia e dos dólares na cueca, recrutou um trânsfuga do PDT para disputar. Nos deixou fora do segundo turno, mas fomos derrotados lutando. A nós não se pode perguntar a pergunta de Malafaia. Se ganhar, não terá sido o PT.

Acho que é informação suficiente para demonstrar que, a levar em consideração o poder da Presidência da República, Lula para além de ser o grande derrotado, é um líder oportunista e manipulador. Se as pesquisas estiverem corretas, sua derrota mais merecida será em São Paulo! E a pergunta de Malafaia certamente lhe será feita com justiça!

Se Lula é o grande derrotado, por que Bolsonaro não é o grande vitorioso? Simples, o povo votou muito mais ao centro do que no espectro mais extremista que Bolsonaro representa. O MDB (Porto Alegre) e o PSD (Rio de Janeiro, BH, Florianópolis) saíram vencendo eleições ou galgando posição ótima no segundo turno. Quem do União Brasil (Salvador e Teresina) venceu ou mesmo do PP, não tem alinhamento com o Bolsonarismo raiz, se é que isto algum dia existiu mesmo.

Se a polarização desejada e alimentada por Lula e Bolsonaro prosperar e chegar com fôlego às eleições nacionais de 2026, este enorme movimento centrista tenderá a se reaproximar da direita bolsonarista, com ou sem ele como candidato. Se não, talvez o País respire aliviado e possamos achar um rumo diferente para esta sofrida Nação.

Este movimento ao centro reside numa tradição brasileira, mas é também um claro sintoma da exaustão de uma espécie de esquerdismo pós-moderno que abandona as questões centrais da vida do povo e se refugia numa agenda ultra fragmentária de identitarismos. Seus principais quadros ganham notoriedade neste caminho, passam a aspirar cargos no executivo e, a partir daí, se desdizem de forma constrangedora e mentirosa. Maria do Rosário e Boulos são casos risíveis. O que fica de trágico é a desmoralização dos adjetivos progressistas. O substantivo então, nem se fala. Ver Boulos anunciar a incorporação de itens programáticos do tal Marçal é uma vergonha!

No mais, neste imenso País do interior, quem venceu foram as emendas parlamentares, o que é garantia de um próximo congresso sem quase nenhuma possibilidade de renovação e caracterizado pelo predomínio do atraso e da corrupção.

Fonte: Newsletter de Ciro Gomes – Nº 65 | DOMINGO, 13 DE OUTUBRO DE 2024