Lá pelo meio dos anos 70, quando concluí o que hoje chamam de ensino médio, eu era um jovem que nada ou pouco sabia sobre o que acontecia nos porões do regime. Ao ingressar na Ufsc, em 1977, fui apresentado a um cenário que descortinou o que me fora sonegado até então, ou seja, comecei a conviver com pessoas que me ajudaram a enxergar para além das aparências. Logo no início do Curso de Jornalismo, que abracei após abandonar dois anos de Engenharia Civil, tive a sorte de contracenar com professores empenhados em ensinar os seus pupilos a interpretar a realidade e a fazer análises precisas da conjuntura política e econômica.
Em 1979, sobreveio a Novembrada e lá estávamos, em meio a tudo aquilo, fermentados para a luta política, protestando contra a prisão de colegas enquadrados na Lei de Segurança Nacional. Eles não representavam risco algum, mas tinham ousado desafiar a empáfia do último e moribundo general-presidente. O que nos movia naqueles tempos bicudos? Pois bem! Todos que se perfilavam na luta mal conseguiam carregar o feixe de bandeiras desfraldadas, tal a urgência, a importância e a profusão de objetivos. O combustível de toda aquela movimentação se constituía, basicamente, na busca do fim da ditadura e no restabelecimento das eleições diretas para os governos dos estados e à Presidência da República.
Foi-se além, com o Congresso Constituinte, amalgamado com a riqueza dos debates que culminaram com a Constituição Cidadã de 1988.
Faço este telegráfico recorte histórico para induzir à reflexão sobre o que temos, agora, de motivação para a juventude deste tempo conturbado, que testemunha uma generalizada apatia ante o avanço do fascismo e a precarização dos direitos trabalhistas e da Seguridade Social.
As bandeiras que nos moviam eram outras. Fica a pergunta: o que restou para os jovens e a massa trabalhadora dos nossos dias?
No meu conceito, as urgências do momento passam pela necessidade de se rever a subserviência à política econômica ditada pelo rentismo.
O identitarismo fragmentado não dá conta de contemplar as suas próprias pautas e mal se interessa pelas demandas dos milhões de excluídos, que estão às voltas com a mera sobrevivência.
Esse contingente imenso de pessoas à margem, não consegue identificar na paisagem política os que se dispõem a bater de frente contra as tramas diárias do que sobrou da cidadania.
O nosso campo político – estou me referindo aos Trabalhistas -, praticamente rendido à hegemonia de um PT que se cingiu ao pragmatismo eleitoreiro, mal consegue disfarçar seu estado de inanição.
O que fazer, então? Acredito que a retomada da nossa fisionomia original deva ser o primeiro e inadiável passo. De uns anos para cá, mais se afirma urgente o resgate do legado que, um dia, nos distinguiu no horizonte da política brasileira. Leonel Brizola estaria nos dizendo que é preciso romper com tudo o que empana o brilho do nosso conteúdo programático, brandindo um não “rotundo” aos aliancismos que nos distanciam da amarga realidade do povão.
Não queiramos cobrar dos que não conheceram os tempos do arbítrio, que se identifiquem com nossos medos de que tudo aquilo acabe voltando com outra roupagem.
O que vai nos reaproximar das massas desorientadas passa pelo resgate da nossa clareza ideológica, sem as costumeiras concessões em troca de migalhas ministeriais.
Estamos no governo de mãos atadas, ironicamente proibidos de encetar medidas que são a essência da nossa orientação estatutária.
Desembarcar já seria uma parte de um recado que precisamos passar aos “navegantes”. Somos diferentes, temos história emancipatória e precisamos atuar, mais do que tudo, como TRABALHISTAS, com o imenso significado que isso contém.
A partir daí, arrumaremos seguidores que vão multiplicar pela planície a importância da retomada de um projeto de Estado Nacional, que inclua os deserdados que não conseguem enxergar quem os representa de verdade. Estamos invisibilizados por uma opção política que se aproxima da covardia. Hora de reagir e chutar o balde do adesismo que nos amordaça e nos aniquila.
Tudo tão simples que, de tão óbvio, nem necessitaria ser proclamado.
Vanderlei Luiz Ricken

