Flávio Lúcio Vieira: PCB/PCBR, o Partidão, Prestes e o Trabalhismo

Flávio Lúcio Vieira: PCB/PCBR, o Partidão, Prestes e o Trabalhismo

Os ditos comunistas do PCB e do PCBR passam longe da tradição do antigo partidão, não sendo, portanto, continuadores dessa experiência histórica que Prestes deu uma dimensão de massas com a ANL, até o malogro golpista da chamada intentona comunista, em 1935; no imediato pós-segunda guerra, com o sucesso da votação do PCB (mais de 8%) e da representativa bancada federal eleita (1 senador e 15 deputados federais constituintes, e que contava com nomes como Prestes, Jorge Amado, Carlos Marighela, Gregório Bezerra e João Amazonas); e nos anos pré-golpe de 1964, quando o PCB conquistou ampla influência e inserção na sociedade, no movimento operário e camponês, no movimento estudantil e na intelectualidade.

Eu diria que os atuais PCB e PCBR estão mais para um PSTU dos tempos de internet. Como neotrotskistas, não estão interessados em se inserir no movimento real da política e contribuir com suas posições nesse debate. Não desejam fazer política, mas reafirmar seu principismo para convertidos em busca de militantes, em geral estudantes, que acham que a revolução brasileira será feita por quem mais a reafirma, sem reparar na capacidade e força para realizá-la, nem com a inserção e a influência de suas ideias em meio às massas, sobretudo de trabalhadores.

Por isso, nunca entenderam o que foi o varguismo e o brizolismo, e porque o trabalhismo foi sendo empurrado para posições e alianças sempre mais à esquerda, o que Prestes e o PCB não viram em 1954 ao fazerem coro com a direita udenista – aliás, Prestes reconheceu seu esquerdismo em outro momento-chave da história nacional, também envolvendo Getúlio Vargas: em 1930, recusou-se a participar do movimento que resultaria na chamada Revolução de 30, na qual poderia ter assumido posição dirigente. Depois da morte de Stalin, Prestes e o PCB finalmente se atentaram para a luta anti-imperialista, o que, no Brasil, passa necessariamente pelo luta nacional. Fez aliança com Jango e, após a ditadura, Prestes e o prestismo se incorporaram ao brizolismo e ao PDT.

PCB e PCBR não compreendem, sobretudo, a natureza estratégica na questão nacional em países como o Brasil. Bem a gosto europeu, continuam a falar em colonialismo ao invés de nacionalismo, que na Europa é hegemonizado pela extrema-direita. Na América Latina, porém, o nacionalismo só pode ser de esquerda em razão dos vínculos carnais e genéticos dos setores econômicos que dependem das exportações de commodities e da superexploração da força de trabalho nacional. A guerra civil de 1932, o suicídio de Vargas, o golpe de 1964 e o ódio visceral da elite econômica por políticos como Leonel Brizola e Ciro Gomes, que abraçaram a bandeira do nacionalismo, são, por si só, demonstrações históricas do quanto é um erro, para quem se diz de esquerda, não fazer frente em apoio a essas ideias.

Ciro Gomes não vai fazer a revolução brasileira, seja lá o que isso signifique (um eco da Marselhesa?). Mas Ciro é o único político que tem um programa claro para enfrentar os principais desafios atuais da luta nacional, e tem com ele milhões de brasileiros convencidos de que sua eleição é o único ato que pode salvar o que ainda resta de Brasil.