“Onde foi que erramos enquanto trabalhistas?” é a pergunta que martela na minha cabeça todo santo dia. Para onde foi o Brasil que era protecionista e nacionalista e que, na década de 90, crescia mais que a China? Como é possível que, num espaço de apenas 30 anos, a nação se jogou num buraco tão profundo? Para quem olha de fora, acredito que colocará a culpa na classe política, nos partidos, no “jeitinho brasileiro”. Essas pessoas não estão completamente erradas. Talvez até algumas apontem como solução cortar salários de deputados, extinguir privilégios desnecessários, combater a corrupção. É duro admitir, mas somente essas atitudes não bastam.
O dilema brasileiro é muito mais complexo do que se imagina ser. Não se trata de apenas corrigir privilégios políticos, cortar salários super recheados de deputados e senadores, nem de combater com unhas e dentes a corrupção perene que assola nosso país, embora tudo isso seja muitíssimo importante. A catástrofe brasileira se deve aos modelos de política e de economia brasileiros.
Ok, mas o que temos a ver com isso? Tudo, creio eu. Há dois problemas centrais nesse dilema que precisam ser esclarecidos de que fazemos parte.
O primeiro, mais óbvio, é de que temos um sistema político caindo de tão podre que se encontra. Nunca antes na história o povo brasileiro esteve tão desacreditado do Judiciário, do Congresso, do Planalto. Farra com o dinheiro público, emendas pix, corrupção. PT e PL votando quase 350 projetos juntos ao longo de 3 anos. A justificativa usada pelo PT é que “precisa ser assim mesmo ” porque senão “não dá pra governar” . Quase 20 anos usando estas palavras para justificarem sua amoralidade e sua condução criminosa da nação. Esse argumento me faz embrulhar o estômago de tão asqueroso que é. Se argumento pudesse cheirar, este teria o odor do Rio Tietê.
Espertamente, para aquietar a sua base, o PT oferece uma “vitória” aqui e ali para a esquerda liberal. Quem se importa que o Congresso não aprovou o Imposto sobre Grandes Fortunas? Ou então se mostra aberta e descaradamente contra os avanços de políticas sociais? Ao menos temos um hino nacional em língua neutra cantado em São Paulo!
O descrédito das instituições e o fisiologismo que permeia a política é grave, mas não é o problema central. Em verdade, este só existe porque está escorado num problema que é muito pior e já não tem mais possibilidade de solução por meios tradicionais, que é o modelo econômico, o segundo problema central, embora não tão óbvio para a população em geral.
“Eu vou serrar uma perna deste modelo econômico!”, prometeu Brizola em 89, quando perguntado qual seria a primeira coisa que faria, caso se tornasse presidente do Brasil. na direção contrária, o canalha Fernando Haddad coloca sua ideologia neoliberal em funcionamento a pleno vapor. Não tem vergonha nenhuma em anunciar cortes à educação, saúde, segurança, transporte, com o ridículo argumento de “controlar os gastos públicos” para “respeitar o teto de gastos”, a pedido do mercado. O aumento do IOF para os mais pobres a isenção para os mais ricos é o exemplo mais recente disto.
E onde está nossa culpa em tudo isso? Não pode o PDT se esquivar de sua responsabilidade. Aceitamos o ministério-bomba da Previdência Social. Nossos dirigentes, feitas as devidas ressalvas, pois não são todos, são explicítos carguistas . Como punição a este comportamento, fomos, em forma de carma, assolados pelas consequências da corrupção no meio previdenciário iniciadas no governo Bolsonaro.
Nossa culpa está em permanecermos aliados com o grupo que potencializa tais erros e continua cometendo-os. Embora não estejamos atuando diretamente, com parcial rompimento no congresso, é impossível não sermos também culpados, porque seguimos, em maior ou menor grau, associados e coniventes com essas práticas. Este erro está custando à nação brasileira!
Quanto mais adiamos o inevitável rompimento completo com o petismo, porquanto absolutamente diferentes em ideologias, em programas e em sonhos e, quanto mais esperamos para propor um verdadeiro projeto de nação, para acolher aqueles que estão insatisfeitos e só então começarmos a combater, de uma vez por todas, a direita que assola o Brasil, tudo só tenderá a piorar.

