A recente expansão do monitoramento financeiro promovida pela Receita Federal acendeu debates inflamados no Brasil. De um lado, o governo garante que a medida tem como foco os grandes sonegadores e não busca prejudicar pequenos empreendedores. Do outro, figuras da direita, como o deputado Nikolas Ferreira, disseminam insinuações que alimentam medos e confusões. O que não pode ser ignorado é que, enquanto ambos se enfrentam em uma guerra de narrativas, a verdadeira reforma fiscal — como a taxação das grandes fortunas — continua sendo negligenciada.
O discurso oficial e a realidade: uma cortina de fumaça?
Segundo a Receita Federal, o objetivo da nova medida é otimizar recursos para fiscalizar grandes transações financeiras, liberando pequenos contribuintes de uma vigilância repressiva. As declarações do secretário Robinson Barreirinhas parecem tranquilizadoras: não há capacidade, nem intenção, de perseguir os pequenos. Entretanto, não podemos esquecer que o histórico do fisco brasileiro muitas vezes coloca as camadas mais vulneráveis da população sob maior pressão.
“É exatamente o contrário, a gente não tem nem condição de fiscalizar dezenas de milhões de pessoas que movimentam valores baixos. A gente quer é automatizar isso para poder melhor orientar esse tipo de contribuinte a se regularizar, por exemplo.” – Robinson Barreirinhas¹
É mesmo plausível acreditar que a automação beneficiará os pequenos, ou estamos diante de mais uma estratégia para mascarar a falta de ações concretas contra os verdadeiros privilegiados do sistema? Na própria declaração do secretário, fica evidente que aqueles que antes não declaravam serão “incentivados” a regularizar sua situação junto à Receita Federal, em um movimento que, embora rotulado como orientação, carrega o peso de uma obrigatoriedade velada.
Fato é que o governo tem conduzido um ajuste fiscal que recai diretamente sobre as classes mais baixas, cortando direitos e ampliando o peso sobre quem já sofre as maiores desigualdades. Nessa ânsia, busca-se tapar o rombo da dívida pública, uma dívida que levou cinco séculos para atingir 7 trilhões de reais e, em apenas dois anos de governo Lula, já ultrapassa os 9 trilhões², ou seja, tudo isso para seguir pagando os juros mais altos do mundo. Essa disparada expõe não apenas a urgência de reformar o sistema, mas também as prioridades equivocadas que penalizam quem menos tem.
Show de horrores da desinformação
Enquanto isso, a direita não perde a chance de transformar meias verdades em armas políticas. Em um vídeo que viralizou, Nikolas Ferreira admite que o Pix não será taxado, mas insinua que isso poderia acontecer no futuro. Essa tática de plantar a dúvida é um manual clássico da manipulação: ela explora o medo e desvia a atenção do fato de que figuras como Ferreira e seus aliados pouco ou nada fizeram para propor soluções efetivas. Não é coincidência que a desinformação encontre terreno fértil em temas complexos como este; afinal, é muito mais fácil espalhar rumores do que discutir ações concretas para reduzir desigualdades.
A grande hipocrisia: o silêncio sobre as grandes fortunas
Tanto o governo quanto a direita partilham uma incoerência gritante: a omissão diante da necessidade de tributar grandes fortunas. Ambos os lados têm preferido jogar com narrativas de impacto imediato, em vez de encarar de frente as reformas estruturais necessárias para criar um sistema tributário mais justo. A esquerda, que se apresenta como defensora dos mais pobres, e a direita, que se proclama guardiã da liberdade econômica, falharam igualmente em endereçar esse ponto crítico. Enquanto isso, o país segue carregando um sistema regressivo que perpetua as desigualdades.
Quem paga o preço?
No embate entre o governo e a direita, quem sai perdendo é o cidadão comum, sufocado por um sistema tributário que cobra mais de quem tem menos. Ao mesmo tempo, a desinformação se transforma em um escudo cínico para ocultar a falta de compromisso de ambos os lados com uma reforma que realmente promova justiça fiscal. A pergunta que fica é: até quando aceitaremos essas narrativas manipuladoras como substituto para a ação concreta? Se é verdade que as mentiras têm pernas curtas, é também verdade que, enquanto corremos atrás delas, os verdadeiros culpados seguem livres para agir sem consequências.
Fonte:
[1]. https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/01/13/nova-fiscalizacao-do-pix-nao-e-feita-para-pegar-pequeno-comerciante-diz-receita-federal.ghtml
[2]. https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/divida-bruta-do-governo-atinge-r-9-trilhoes-maior-valor-da-historia/

